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Boletim Epidemiológico: Monitoramento das condições pós-covid no Brasil

A pandemia da covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, teve início em dezembro
de 2019, na cidade de Wuhan, China, e rapidamente se espalhou
globalmente, resultando na declaração de uma emergência de saúde pública
internacional em janeiro de 2020 pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), revogada em 5 de maio de 2023, após três anos e três meses em
status emergencial1.
A covid-19 é uma doença altamente contagiosa, transmitida principalmente
por meio de gotículas respiratórias ou aerossóis e contato com superfícies
contaminadas. Seus sintomas podem variar desde formas assintomáticas ou
leves, semelhantes aos de um resfriado comum, até quadros graves, como
a síndrome respiratória aguda grave. Em casos mais severos, pode levar à
morte, especialmente entre grupos vulneráveis, como idosos e pessoas
com comorbidades2.
Durante o curso da pandemia, surgiram também preocupações com os
efeitos a longo prazo da infecção pelo SARS-CoV-2. Esses efeitos foram denominados
“condições pós-covid”, também conhecidos como “covid longa”.
As condições pós-covid abrangem uma gama de manifestações clínicas
que podem acometer qualquer indivíduo previamente infectado pelo vírus,
independentemente de terem apresentado uma infecção assintomática ou
uma forma grave durante a fase aguda da doença. Representam várias entidades
clínicas que podem se sobrepor com causas biológicas distintas,
fatores de risco e desfechos variados3.
Os padrões das condições pós-covid são heterogêneos, com uma variedade
de sintomas e, atualmente, não há um teste laboratorial para diagnosticar
definitivamente as condições pós-covid ou para distingui-las de condições
com diferentes etiologias. O diagnóstico deve ser feito com base no histórico
e exame físico do indivíduo, ou pode necessitar de testes diagnósticos direcionados,
conforme o quadro clínico apresentado3.
Devido ao seu amplo espectro sintomático, estimar a prevalência dessas condições
representa um desafio para a maioria dos países, que ainda não implementaram
uma vigilância epidemiológica passiva eficaz para essas condições.

Segundo a OMS, cerca de 10%-20% das pessoas infectadas
pelo SARS-CoV-2 podem desenvolver as condições
pós-covid, embora os números exatos das pessoas que
vivem com essas condições sejam incertos4.
No Brasil, diversas iniciativas no âmbito da vigilância
epidemiológica já foram realizadas pelo Ministério da
Saúde para aprimorar o entendimento e estimar a frequência
dessas condições. A Secretaria de Vigilância
em Saúde e Ambiente (SVSA) está conduzindo inquéritos
epidemiológicos de base populacional e financiando
pesquisas clínicas voltadas para essa temática, com o
objetivo de estimar a prevalência e compreender melhor
as condições pós-covid na população brasileira.
Este documento tem o objetivo de analisar condições
pós-covid no Brasil, a partir da análise de dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), dos registros de atendimentos para
as condições pós-covid realizados na Atenção Primária
à Saúde (APS) e dos registros dos óbitos associados
às condições pós-covid no Sistema de Informação
sobre Mortalidade (SIM), de modo a contribuir com
o entendimento dessas condições.

 

Boletim Epidemiológico – Vol. 56 nº 07 (1)