Pesquisador em nível de pós-doutorado na área de ergonomia e biomecânica da Universidade de Santa Catarina (UFSC), Diogo Cunha foi um dos destacados palestrantes no Seminário Nacional de Saúde e Trabalho no setor de Alimentação da Confederação dos Trabalhadores da Alimentação (CONTAC/CUT) e a Rel UITA que ocorreu nos dias 25 e 26 de julho em Chapecó.
por Gerardo Iglesias – Rel UITA
Conversamos com ele sobre a pesquisa que o seu Núcleo de Estudos (SIGEVIS-UFSC) está desenvolvendo com relação às condições de trabalho e ao esforço que realiza um trabalhador durante uma jornada em um frigorífico de suínos.
Quando ele começou mostrando os dados, os participantes não confiaram: “É mesmo? Ele não está errado? Como é possível tanta força?”
—Sua palestra mostrou dados alarmantes com relação à força que um trabalhador de frigorífico realiza por dia. Como vocês chegaram a eles?
—A mensuração do esforço que o trabalhador faz na indústria muitas vezes é difícil de quantificar.
Porque quando o operário levanta um objeto, essa carga é fácil de colocar na balança, se ele levanta um pernil de porco, é simples de pesar isso e saber quanto peso o trabalhador levantou. Mas quando não está levantando um objeto específico, por exemplo quando esse trabalhador usa uma faca para fazer um corte na carne, é bem mais difícil de mensurar a força que ele exerce.
Para medir isso você usa o que chamamos de escalas subjetivas. Você pergunta para o trabalhador quanto de força ele acha que está fazendo, de 1 a 10, por exemplo, mas isso depende da percepção de cada operário.
Como este método é muito subjetivo, como o próprio nome indica, a alternativa para chegar a uma medição mais precisa é usar dispositivos tecnológicos. Então, um dos nossos pesquisadores de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (Ergonomia), Salvador Francisco Tirloni*, desenvolveu uma faca de frigorífico instrumentada, que não é qualquer faca.
—Como é?
—O pesquisador desmontou uma faca tradicional de frigoríficos e embutiu nela sensores eletrônicos específicos que conseguem mensurar os movimentos, os cortes e a força realizada pelo operário durante a jornada de trabalho.
A faca é conectada (Bluetooth/Wi-Fi) a um dispositivo móvel através de um App que permite monitorar as informações em tempo real. O caso que nós analisamos foi a desossa de pernil em um frigorífico de suínos, e o resultado foi que um trabalhador ao longo do dia chega a exercer 72 toneladas de força.
Uma carga extremamente alta que é realizada diariamente e que provoca consequências diretas na saúde desse trabalhador.
Imagine um atleta de levantamento de peso, em um dia de treinamento ele chega a levantar até 50 toneladas, mas no dia seguinte ele descansa aquela musculatura, e para que o organismo se recupere ele vai trabalhar outros músculos. Já o trabalhador de frigorífico usa os mesmos músculos dia após dia, sem dar tempo suficiente para o corpo se recuperar, e isso vai gerando uma série de doenças osteomusculares vinculadas ao trabalho (LER-DORT).
—Como você avalia este Seminário
—Extremadamente produtivo.
Grandes palestrantes de diferentes áreas enriqueceram o encontro. Acho que os dirigentes sindicais receberam informações muitos valiosas para transmitirem às suas bases e potencializar a atuação em defesa da saúde e segurança dos trabalhadores.