Essencialmente Errada: A resposta dos Estados Unidos contra a pandemia nos ambientes de trabalho foi o tema da última sessão cientifica da Rede Trabalhadores & Covid-19, que contou com a participação do professor associado na Escola de Meio Ambiente (School for the Environment) da Universidade de Massachustts Boston EUA, parceiro da Fiocruz e integrante da Rede Eduardo Siqueira. A atividade abordou a relação dos imigrantes no país diante da Pandemia da Covid-19.
O professor apresentou um panorama geral do trabalho, considerado essencial no território americano, e a resposta dos governos federal e estadual americano. Além disso, ele apresentou a revisão da ciência mais recente sobre a transmissão do vírus.
Na apresentação do quadro geral, o pesquisador mostrou que os EUA se apresentou como o 6° pais que menos teve eficácia na saúde e economia diante do vírus, ficando abaixo do recomendado pelas Nações Unidas. No país, como apresentado pelo professor, foram adotadas duas formas de contenção do vírus: a supressão, que orientava o distanciamento de, no mínimo, 2 metros, uso de máscaras e o lockddown; e a contenção, que era direcionada a manter os negócios abertos sem lockdown, focar nos idosos, pessoas com vulnerabilidade e na sobrecarga dos hospitais. Comentando as estratégias, o professor ressaltou que a supressão do vírus no país nunca ocorreu, já que, segundo ele, isso causaria a “paralisia da economia e um dano enorme para o país”. “O único país que adotou de forma eficaz a supressão foi a China, que paralisava a economia momentaneamente para conter o avanço da doença”, salientou. Além disso, o professor pontuou a falta de testagem, o isolamento insuficiente, a inteligência epidemiológica, falta de equipamentos de proteção individual e a subestimação do poder executivo sobre o vírus como os fatores que atingiram a ineficácia da estratégia de supressão.
Outro ponto questionado pelo professor foi o fato de a população e o governo “correrem atrás do vírus”. “Do ponto de vista epidemiológico, sabemos que precisamos nos antecipar à doença, e não correr atrás dela”, apontou ele, apresentando pontos que mostraram a ineficácia desse método, como a reabertura dos negócios sem o achatamento da curva, o sistema de saúde com atenção primária ruim, dentre outros.
Iniciada em 2020, a Pandemia da Covid-19 passou por dois governos nos Estados Unidos; no primeiro momento, com o ex-presidente Donald Trump e, atualmente, com Joe Biden. Em sua apresentação, o professor fez um comparativo de atuações dos governos. No governo Trump, por exemplo, o professor pontuou algumas das respostas erradas adotadas pelo governo, como a desmoralização do Centro de Controle Preventivo (CDC), considerada, pelo professor, um desastre. “O CDC era uma instituição que a maioria do povo americano sempre respeitou, e, com essa situação da pandemia, ficou bastante desmoralizado durante o governo Trump”, ressaltou o professor falando sobre a censura de informação imposta no Centro. Para ele, algumas práticas continuaram no governo Biden, mesmo que em níveis diferentes. “Houve mudanças de normas, de recomendações que não eram baseadas em fundos científicos, e chegou ao ponto do CDC emitir normas que não tinham nenhum cabimento”, salientou o professor pontuando que, mesmo com a mudança de governo, alguns pontos melhoraram, mas continuam equivocadas.
Para o professor, a desigualdade existente em território americano é nítida e foi evidenciada ainda mais pela pandemia. “Quem morre mais e adoece mais são os negros, indígenas, latinos e algumas população asiáticas. A Covid-19 fez uma seleção de acordo com os determinantes sociais na saúde, aqueles que têm pior salário, emprego, saúde ficam mais doentes e continuam sofrendo mais com os impactos da doença.
Resposta errada nos ambientes de trabalho
Para o professor, a resistência dos empregadores em diversas indústrias e setores da economia foi uma das principais estratégias erradas utilizadas para conter a doença no trabalho. A exemplo disso estão os frigoríficos, onde, segundos dados da apresentação, 86 mil trabalhadores testaram positivo (até fins de 2021) e 423 faleceram, o que mostrou que grandes frigoríficos priorizaram os lucros e produção em vez de proteger os trabalhadores. O que prova a ineficácia da situação foram os gráficos apresentados pelo professor, que mostram uma concentração maior de casos em cidades nas quais estão localizados os frigoríficos.
Estudos publicados pelo professor junto com outros pesquisadores mostraram que trabalhadores em serviços pessoais, serviços de saúde ou cuidados domiciliares, serviços de segurança, trabalhadores de restaurantes e da construção civil foram os mais afetados.
Erros da interpretação da ciência sobre a transmissão pelo ar ou via aérea
Uma das estratégias utilizadas na prevenção da Covid-19 foi o distanciamento de 2 metros, para evitar contágio com as gotículas ou aerossóis. Para explicar esse caso, Eduardo Siqueira pontuou que essa estratégia foi derivada de uma interpretação errada dos estudos de Flügge e Well sobre a tuberculose e que levou à dicotomia entre gotícula e aerossóis. “Essa distância de 2 metros não tem estudo científico para aerossóis, só para contato por gotículas. Isso foi mal interpretado, levando à adoção de medidas equivocadas”, alertou.
O professor apresentou diversos estudos e dados explicativos sobre a diferença de gotículas e aerossóis e como eles influenciaram no contágio dos vírus.
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