Perdas e cortes. Essas palavras permearam o ano de 2021 dos professores em todo o Brasil. O segundo ano de pandemia evidenciou ainda mais o descaso com essa classe trabalhadora. Vários caminhos foram traçados por sindicatos e instituições para proteger esses trabalhadores e trabalhadoras do sucateamento da classe. Ensino remoto sem plataformas eficientes, retorno às aulas sem vacinação das crianças, dentre outros, foram ainda mais agravantes na vida desses profissionais.
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), por intermédio do projeto da Rede de Informações e Comunicação sobre a exposição ao Sars-CoV-2 em trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, conversou com especialistas em assuntos educacionais, consultores e funcionários do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte/SC), Evandro Accadrolli, que falou, do ponto de vista dos trabalhadores, como algumas decisões afetaram os professores. Confira os principais pontos da entrevista abaixo:
Perdas e cortes em relação à pandemia
Segundo Evandro, houve aumento da carga de trabalho, da pressão psicológica e maior exigência com as burocracias durante pandemia. “O Sinte/SC pressionou o governo para garantir melhores condições de trabalho. O sindicato também dialogou com os professores sobre como lidar com essas situações, como os casos em que os professores foram convocados para trabalhar presencialmente durante a pandemia, além de muitos casos de contaminação por conta do trabalho presencial. O sindicato fez uma campanha de orientação a respeito de como enquadrar a contaminação de Covid-19 na CAT, nas Cartas de Acidente de Trabalho, para considerar contaminação por Covid-19 dentro da escola como acidente de trabalho”, explicou.
A saúde dos professores e professoras
Uma das preocupações do sindicato, segundo o presidente, foi fazer com que esses trabalhadores estivessem bem informados, promovendo a realização de lives, e escutar as reclamações e dificuldades enfrentadas por eles durante esse processo. Outra ação importante salientada por Evandro foi uma pesquisa sobre saúde dos professores na pandemia. “A pesquisa levantou muitas informações, inclusive dando argumento e sustentando as posições do sindicato frente ao governo”, ressaltou.
Além disso, o Sinte/SC fez uma grande cobrança para garantir a vacinação considerando como grupo prioritário os trabalhadores e trabalhadoras de Educação, chegando a paralisar as atividades, o que garantiu que a Educação fosse um dos primeiros grupos imunizados, fruto da luta do sindicato.
Além dos pontos abordados, uma das principais queixas apresentadas e salientadas por Evandro foi a estratégia do governo em realizar a Reforma da Previdência no momento da pandemia e a PEC 32, que altera dispositivos sobre servidores e empregados públicos, além da implementação do novo ensino médio.
“O governo do Estado impôs uma Reforma da Previdência se aproveitando do período da pandemia e da dificuldade do sindicato em mobilizar a categoria para fazer pressão sobre a Assembleia Legislativa e acabou impondo uma sobretaxa ou retirando aquilo que já era direito dos trabalhadores, isto é, a não cobrança da parcela dos trabalhadores, principalmente dos que têm baixos salários de um a seis salários mínimos na Previdência.
Essa é uma informação importante, e a sociedade precisa compreender como o governo está sendo cruel com os mais necessitados, não com os privilegiados. Eles fazem um discurso de combater privilégios e castigam os que menos ganham, os mais espoliados.
A segunda questão é em relação à própria PEC 32, que é a mudança proposta pelo governo federal de alterar o serviço público retirando direitos, principalmente as regras de ingresso no concurso público, as regras de equidade e, principalmente, as regras de melhoramento nas carreiras.
Outra questão específica sobre Educação é o projeto de municipalização de escolas, que vem sendo feito pelo governador Moisés, no qual unidades escolares que eram administradas pelo governo estadual são entregues para escolas, reduzindo, assim, a qualidade na Educação, visto que os municípios já passam dificuldades para manter a educação pública que lhe é de responsabilidade, por exemplo, as inúmeras cidades que têm falta de vagas na Educação Infantil. Mais um ataque preocupante é a implementação do novo ensino médio, que começa a valer no próximo ano e altera a grade curricular das escolas, excluindo da Rede Pública disciplinas importantes para o conhecimento de todos os estudantes.
Outro dado alarmante é o adoecimento da categoria da Educação Pública Eestadual, que foi revelado após uma pesquisa de Saúde Docente realizada pelo Sinte/SC. Nessa pesquisa, verificamos que os professores e professoras estão indo trabalhar doentes, muitos deles para não atrasar o conteúdo das matérias. Verificamos, na pesquisa, que a pandemia gerou sobrecarga de trabalho, aumentando o tempo de dedicação fora do horário do expediente para dar conta das demandas. E o estado de Santa Catarina teve altos índices de contaminação na educação. Em resumo: é uma categoria que trabalha mais tempo do que recebe, é uma categoria que recebe muita pressão, que adoece por conta do aumento da carga de trabalho e da pressão também e vai trabalhar doente para não atrasar o conteúdo dos estudantes”, finalizou.
O retorno às aulas
Além de toda a jornada de aulas on-line, os professores também tiveram que lidar com o retorno presencial, iniciado no ano de 2021. Pesquisas apontam que esse contato contribuiu para o aumento de profissionais afastados por conta do número crescente de casos de Covid-19. Agora, estamos no início do retorno escolar e da vacinação infantil. No ano passado, epidemiologistas da ENSP, por meio da Nota Técnica da Fiocruz, reafirmaram a “importância da vacinação contra a Covid-19 em crianças na faixa etária de 5 a 11 anos, conforme autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O documento divulgado pela instituição destaca a imunização como uma ação de “grande relevância em saúde pública” pela possibilidade de mitigação de formas graves e óbitos pela Covid-19 nessa faixa etária; pela colaboração na redução da transmissibilidade da doença; e pela possibilidade de ser uma das mais importantes estratégias para o retorno e manutenção segura das atividades escolares presenciais”. Porém, na mesma Nota, o pesquisador da ENSP André Perissé destacou que a variante Ômicron é reconhecida pela grande transmissibilidade, mas a resposta da vacina tem sido positiva. Para ele, porém, as festas de final de ano eram um indicador do que estava por vir, principalmente em relação às aulas presenciais.
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