O 13°Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), realizado esse ano em Salvador, na Bahia, mais uma vez abriu espaço para o debate da Saúde do Trabalhador e Trabalhadora. E para apresentar as ações para a área, pesquisadores e procuradores ligados a saúde do trabalhador apresentaram suas ações no evento. Com uma mesa coordenada pela pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/Fiocruz) Liliane Teixeira, o médico pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Hermano Castro, a pesquisadora e uma das coordenadoras da Rede Trabalhadores & Covid-19 Maria Juliana Moura Correa, a procuradora do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro, Marcia Kamei e a conselheira nacional de Saúde Francisca Valda da Silva mostraram as ações realizadas por eles diante da crise epidemiológica da Covid-19.
O médico e pesquisador da Fiocruz Hermano Castro, em sua apresentação, falou sobre os impactos que a pandemia da Covid-19 causou nos trabalhadores e trabalhadoras, fato comprovado pela grande baixa nas carteiras de trabalho, por um número grande de mortes, que afetaram principalmente os trabalhadores essenciais, como jornalistas, frentistas, comercio, enfermeiros, dentre outros. “Enfrentamos a pandemia no pior momento do país, o que aumentou ainda mais a desigualdade devido ao tipo de governo que nós vivemos”, salientou o professor que mostrou alguns dados que ele acredita ser a ponta do iceberg do que aconteceu em todo o país.
Além disso, Hermano Castro chamou a atenção pelo fato dos dados apresentados por ele ser referir aos trabalhadores formais, com registro. “Motoboy e trabalhadores informais não possuem números, não existe no Brasil esse registro, isso foi tema de muito debate acadêmico”, ressaltou ele, acreditando que os números estão defasados.
A procuradora do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro, Marcia Kamei mostrou como a pandemia do coronavírus evidenciou as dificuldades das ações articuladas entre a vigilância, atenção, assistência e o rastreamento de contato. Para ela, é preciso ter uma visão mais agrupada. “Precisamos ampliar o nosso olhar e ter um sistema mais resiliente para quebrar a cadeia de transmissão, voltado não só para as ações, mas na vigilância também”, enfatizou a procuradora acreditando que o sistema pode ser mais resiliente, basta saber opera-lo, para dar uma resposta mais adequada para a sociedade.
Como iniciativa do MPT para iniciar a melhora no sistema, a procuradora falou sobre o documento emitido pelo Grupo de Trabalho Covid-19 do qual preconizou as medidas de vigilância epidemiológica dentro dos ambientes de trabalho, tentando fazer essa compatibilização entre os programas previstos nas NR’s e a vigilância em saúde do trabalhador. “Precisamos ampliar a nossa visão, fazendo com que os sistemas caminhem juntos, toda fonte de informação é importante”, finalizou.
Uma das coordenadoras da Rede Trabalhadores & Covid-19, Maria Juliana Moura Correa, mostrou os avanços realizados pela rede até o momento atual. A pesquisadora fez um panorama geral sobre o projeto, explicando desde o início o que levou a elaboração do projeto, os resultados coletados por ele e os desdobramentos gerados. “Nosso objetivo era dar os informes necessários o mais rápido possível para a elaboração de protocolos e planos de contingência”, salientou ela.
Os estudos realizados pelo projeto ganharam destaque na fala da coordenadora. Ao total foram três, uma pesquisa do tipo transversal conduzida em plataforma on-line, direcionada a trabalhadores no Brasil, um Inquérito populacional sobre exposição ao SARS-CoV-2 em trabalhadores expostos ao amianto e um estudo clínico em ambulatórios de pneumologia sobre exposição ao SARS-CoV-2 em trabalhadores expostos ao amianto, à sílica e outras poeiras minerais. “A rede tem três componentes, os trabalhadores, os serviços do SUS, a partir dos Centros de Referências em Saúde do Trabalhador que compõe a Rede Nacional de Saúde do Trabalhador- RENAST e as instituições de ensino e pesquisa”, reforçou a pesquisadora que mostrou os resultados gerados pelo projeto, como notas, pareceres, podcasts, notícias dentre vários produtos.
Um dos desdobramentos do projeto é o Observatório do Impacto das Doenças Infectocontagiosas nos Ambientes de Trabalho. “A ideia do observatório é dar visibilidade não só a Covid-19, mais todas as doenças transmissíveis no ambiente de trabalho”.
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A conselheira nacional de Saúde Francisca Valda da Silva, em sua fala, salientou um pouco sobre os desmontes sofridos pelos trabalhadores, principalmente no momento da pandemia, o que agravou ainda mais a saúde dos trabalhadores. A conselheira enalteceu as instituições e pesquisadores por manter de pé a política da saúde do trabalhador no momento de crise, que foi esquecido e desvalorizado pelo atual governo. “O controle social resistiu ao desmonte dos direitos”.
Além disso, ela apresentou algumas ações importantes realizadas de forma independente por algumas instituições a fim de manter os atendimentos aos trabalhadores nos momentos de crise.