A Rede de Informação sobre a Exposição ao Agente SARS-Cov-2 em trabalhadores e trabalhadoras lançou, oficialmente, o questionário digital que visa obter respostas de diversos profissionais para a melhoria da condição de saúde e de vida no trabalho. A atividade objetivou — além de divulgar e informar a respeito do questionário — mostrar a importância de conhecer, se apropriar e entender a Rede de Informações de Exposição dos SARS-Cov-2 em trabalhadores e trabalhadoras. O projeto foi desenvolvido pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Cesteh/ENSP) e o Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisa da Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat) com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT) e das entidades pertencentes à Diesat e Fiocruz.
Em três etapas — abertura da mesa, apresentação da Rede de Informações e do questionário, além da fala de sindicalistas —, o evento contou com a participação dos pesquisadores, trabalhadores e membros importantes da luta pela saúde desses profissionais.
A importância do questionário
Sob a mediação do representante do Diesat, Eduardo Bonfim, a abertura da mesa foi realizada pelo vice-presidente de Pesquisas e Condições Biológicas da Fiocruz Rodrigo Correa-Oliveira, que enalteceu o trabalho realizado pela Rede de Informação a Exposição de trabalhadores e trabalhadoras ao SARS-Cov-2. “É uma enorme satisfação entregarmos à sociedade hoje, principalmente aos trabalhadores e trabalhadoras, mais um produto da Rede de Informação e Comunicação sobre a Exposição dos trabalhadores e trabalhadoras ao SARS-Cov-2 no Brasil. É um questionário muito importante para ajudar no monitoramento da saúde e do trabalho neste momento de pandemia”, salientou o vice-presidente enaltecendo, ainda, as linhas centrais da pesquisa baseadas sempre na ética.
Para ele, é uma metodologia importante, já que “trabalhadores e suas entidades construíram um espaço dinâmico e interativo, capaz de realizar a escuta da saúde dos trabalhadores neste grave momento de pandemia, afim de construir com informações científicas a realidade do adoecimento do trabalhador brasileiro para mitigar ainda mais o SARS-Cov-2”.
O presidente nacional do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisa da Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat), Edson Flores, declarou ser importantíssimo essa primeira fase do questionário para os trabalhadores essenciais. Além disso, ele salientou a importância de estudos como esse para a mudança na vida e no ambiente do trabalho, já que afetam diretamente, além da saúde do trabalhador, a condição social desses profissionais. “O questionário irá ajudar a nossa classe trabalhadora, pois temos uma dificuldade na divisão de renda do nosso país, e isso pode gerar mais miséria, consequentemente mais fome”, ressaltou.
Para o presidente do Conselho Nacional da Saúde (CNS), Fernando Pigatto, o lançamento do questionário vai ajudar a identificar o que está acontecendo, neste momento de pandemia, com os trabalhadores de todas as classes de trabalho, principalmente os que estão na linha de frente, e saber as consequências que essa doença vai ter na vida dessas pessoas. Ele também salientou a importância do questionário e da rede. “Eles estão contribuindo com várias outras ações, ajudando no enfrentamento da pandemia com pareceres e outros instrumentos para os trabalhadores”, enfatizou ele salientando a importância de manter a vigilância sempre.
Em consonância com o presidente da CNS, a procuradora do Trabalho Márcia Kamei López Aliaga também considerou o atual momento enfrentado pelo país como muito difícil, não só pela pandemia, mas por “ter revelado problemas estruturais da nossa realidade que não víamos”. Além disso, a procuradora também lembrou dos ataques aos quais os brasileiros vem enfrentando com seus direitos e movimentos sociais.
Para ela, o lançamento do questionário é uma iniciativa muito importante nesse arrefecimento da crise. “A Covid impôs, para a sociedade, imensos desafios que se desenvolvem muito rapidamente, e a ciência ainda não teve tempo de acompanhá-los. Temos que lidar com essa incerteza. Um exercício de humildade frente à Ciência, que tem um tempo e precisa ser respeitado”, salientou ela, parabenizando o projeto da rede, já que considera muito importante fazer a integração entre os atores para pensar em ações para a sociedade em geral e classe trabalhadora.
Parabenizando todas as forças sindicais, o coordenador adjunto da Comissão Inter- setorial da Saúde do Trabalhador e Trabalhadora (Cist/Nacional), João Donizete Scabolli, iniciou sua fala pontuando o momento histórico e reflexivo no qual estamos vivenciando. “Histórico é o lançamento da Rede de Informação sobre a Exposição ao Agente SARS-Cov-2 em trabalhadores e trabalhadoras e o seu questionário, e reflexivo é o momento que estamos atravessando, que vem adoecendo os nossos trabalhadores e nossa sociedade em geral em todo o mundo.”
Para ele, o questionário irá “fortalecer muito as políticas da saúde dos trabalhadores e trabalhadoras num momento de muita prevenção e precaução”, reforçando a importância de um trabalho com planejamento, organização e muita gestão. “As representações dos trabalhadores vão fortalecer ainda mais a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras”, concluiu.
A Rede de Informação sobre a Exposição ao Agente SARS-Cov-2 em trabalhadores e trabalhadoras e o questionário digital
As coordenadoras da Rede de Informação, Liliane Teixeira e Maria Juliana Moura Corrêa, explicaram um pouco mais sobre os objetivos tanto do projeto da Rede em geral como do questionário.
A coordenadora Liliane Teixeira fez um panorama geral sobre o projeto da rede, que tem como objetivo aplicar a tecnologia de informação e comunicação para conhecer as condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores dos serviços essenciais que estão atuando com pacientes e a população potencialmente infectados, para subsidiar ações de mitigação dos riscos à saúde.
A coordenadora, em sua fala, reforçou a metodologia do projeto, dividido em quatro eixos — Comunicação em Saúde e Informação, Monitoramento dos trabalhadores expostos, Mobilização, articulação e advocay e Registro e memórias —, além de enaltecer a importância do trabalho interligado entre instituições, sendo mais um dos objetivos da rede. “Compartilhar experiências e potencializar ações em saúde pela integração de três redes integradas e interligadas: pesquisadores, serviços de saúde e trabalhadores e trabalhadoras.
Para apresentar o questionário, a coordenadora Maria Juliana Moura Corrêa o classificou como um instrumento de comunicação de risco nos ambientes de trabalho a partir do registro de dados que serão feitos pelos próprios trabalhadores, não só nesse momento pandêmico. “Pretendemos que tenha continuidade pós pandemia, o questionário não só uma pesquisa momentânea.”
Para facilitar os trabalhadores no preenchimento do questionário, a pesquisadora destacou pontos importantes, como a construção do formulário. Segundo ela, são dois documentos distintos, um para a estrutura de trabalho presencial e outro para o trabalho remoto.” Eles serão unificados posteriormente, só são divididos apenas nas etapas que se destinam ao ambiente de trabalho”, explicou.
De acordo com a coordenadora, os questionários têm divisões temáticas, sendo dez questões no questionário de trabalho presencial e oito para o trabalho remoto, norteadores sobre organização do trabalho e percepção de risco. “A estrutura temática dos questionários passa sobre os temas: trabalhador, empregador, saúde, avaliação de risco, medida de prevenção, capacitação médica, administração, equipamentos de participação de controle e automação”, reforçou.
A estrutura escolhida para o armazenamento do questionário foi a Redcap. Segundo Juliana, a escolha foi devido à segurança de dados, recursos para guardar as informações, análise de dados latitudinais, dentre outros.
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Trabalhadores ressaltam a importância do questionário
Neste primeiro momento, o questionário está direcionado para três classes de trabalhadores específicos: o setor petroleiro, frigorífico e saneamento. E como a Rede de Informação tem a premissa de dar voz aos trabalhadores, a live abriu espaço para representantes desses setores pontuarem sobre sua realidade.
Representando o setor de petróleo e gás, foram convidados os integrantes da Federação Nacional do Petróleo (FNP), Marcelo Juvenal e o integrante da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Raimundo Teles. Ambos demostraram preocupação com o cenário atual da indústria em relação à proteção e segurança dos trabalhadores do setor.
Marcelo Juvenal salientou que o problema já existente no trabalho dos petroleiros piorou com o advento da pandemia e com a negligencia dos gestores dentro das empresas. Ele demonstrou, também, uma continua preocupação em relação ao país, que segundo ele não adotou medidas de prevenção e controle, não so para a população em geral, mas para os trabalhadores essenciais, para que eles não fossem tão expostos.
Além disso, sua fala foi rodeada de denúncias gravíssimas sobre o número de mortes e falta de notificações das grandes empresas do ramo. Assim como a participação de Raimundo Teles, que falou como vem sendo tratado os funcionários no setor de petróleo e gás. Segundo ele, há um esquecimento do setor diante da pandemia, e com isso todo o movimento sindical demandou preocupação no sentido de criar barreiras de contenção para garantir ao trabalhador uma saúde plena no exercício das atividades. “A saúde do trabalhador deve ser uma luta irmanada com toda a sociedade”.
No setor de saneamento, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil de São Paulo (CTB-SP) repudiou as atitudes do atual governo, inclusive aos desmontes e ataques de vários direitos dos trabalhadores que acontecem mesmo nesse cenário de pandemia. Além disso, o presidente também salientou o valor do questionário priorizando uma divulgação ampla para atingir o maior número possível de trabalhadores. “O questionário irá ajudar mais na elaboração de ações para a melhoria da saúde dos trabalhadores e trabalhadoras.”
Representando o setor frigorífico, foram convidados o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação e Afins (CNTA), Artur Camargo, e o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA/RS), Paulo Madeira.
O presidente da CNTA, Arthur Camargo, falou sobre as negligências que têm acontecido dentro das unidades de frigoríficos, que possui um ambiente bem propício para a proliferação da doença. Arthur salientou a falta de apoio do governo e o descaso com os trabalhadores, como a falta de notificação dos casos de Covid-19 pelas empresas. Por parte da Federação, Arthur mostrou as ações que o sindicato vem realizando para diminuir o número de casos nessa indústria. Além disso, o presidente demostrou outra preocupação. “A Covid-19 pode deixar sequelas no trabalhador, o que pode impedi-lo de exercer suas atividades. Esses trabalhadores foram desamparados. Nossa luta é garantir o emprego desses trabalhadores”, reforçou.
Já o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA/RS), Paulo Madeira —, que já concedeu entrevista para o Informe ENSP —, reiterou a fala do colega sindicalista e salientou a importância do Ministério Público não só na autuação do frigoríficos, mas também em traçar medidas para auxiliar no futuro, principalmente dentro das unidades de frigorícos, “um legado em que possamos ter norma e venha para regulamentar o trabalho do frigorífico”, concluiu.
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