Portal ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Portal FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

Rede Trabalhador & Covid-19 lança inquérito para avaliar expostos ao amianto diante da Covid-19

“Rede de Informações e Comunicação Sobre a Exposição De Trabalhadores e Trabalhadoras ao Sars-CoV-2 é uma importante ação da ENSP/Fiocruz e o Diesat, com desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação disponíveis a todos os trabalhadores. Mas alguns trabalhadores têm dificuldades de acesso pelas enormes desigualdades sociais, que resulta em limitações no uso das ferramentas e aquisição de equipamentos, pois não há uma política pública de acesso universal às tecnologias, nem mesmo no período de pandemia.” A fala é de uma das coordenadoras da Rede de Informações e Comunicação Sobre a Exposição De Trabalhadores e Trabalhadoras ao Sars-CoV-2 no Brasil, que, junto com os demais integrantes, vem percebendo a necessidade de criar métodos e alternativas para auxiliar e ajudar a entender os males que essa doença pode causar ao conjunto da classe trabalhadora.

Devido a isso, a Rede Trabalhador & Covid-19 observou que alguns setores de trabalho sofrem mais com a exposição ao coronavírus por conta da tarefa que exercem ou de riscos ocupacionais pré-existentes. É o caso dos expostos ao amianto. A maioria dos trabalhadores apresenta comprometimentos pulmonares decorrentes da exposição ao amianto durante o tempo em que desenvolveram suas atividades, e isso torna o contado deles com o Sars-CoV-2 ainda mais perigoso.

Com essa avaliação, realizada pelos coordenadores do projeto, a equipe, junto com Cereste’s de sete estados, Ministério Público do Rio Grande do Sul, Secretaria de Saúde do Rio de janeiro e a Associação de Expostos ao Amianto no Brasil (Abrea), criou um inquérito para apurar a situação desses trabalhadores, denominada “Rede de Informações e Comunicação Sobre a Exposição De Trabalhadores e Trabalhadoras ao Sars-CoV-2 no Brasil – Trabalhadores Expostos ao Amianto”.

A avaliação em trabalhadores expostos ao amianto no Brasil será coordenada pelo pesquisador sanitarista e doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz),  Cyro Haddad Novello, em parceria com Cerest municipal da cidade do Rio de Janeiro. Para Cyro, o resultado do inquérito trará novas rotas para a saúde do trabalhador no país. “Acreditamos ser este momento um marco para a Saúde Pública e para Saúde do Trabalhador no Brasil; as informações coletadas serão de extrema importância para desvelamento do impacto sofrido pela classe trabalhadora em face da pandemia do Covid-19 no país”, salientou o pesquisador.

O inquérito tem como objetivo monitorar a epidemia de Covid-19 em trabalhadores expostos ao amianto devido ao comprometimento pulmonar preexistente causado pela substância. Nessa etapa do projeto, a Rede desenvolveu uma metodologia que contará com entrevistadores distribuídos em seis estados. “A metodologia se inicia com um treinamento on-line em todo o Brasil, capacitando os entrevistadores. Na sequência, faremos uma busca ativa com o apoio dos Cerest’s e associações de trabalhadores expostos, para, por fim, iniciarmos inquérito telefônico e preenchimento do questionário eletrônico, descrevendo a evolução de contágio, doença e tratamento realizados, com os respectivos desfechos”, explica ele exemplificando que muitos trabalhadores ficam inviabilizados “por não terem recursos para acessarem os instrumentos desenvolvidos na Rede Trabalhadores & Covid”, por isso a implementação do estudo dirigido direto com os trabalhadores.

O coordenador do projeto salientou a relevância de os trabalhadores participarem do inquérito e como as informações ajudam a Rede Trabalhador & Covid-19 a avaliar o impacto da pandemia em trabalhadores com comorbidades.  “A informação relacionada à vacina é importante na elaboração de políticas públicas de saúde e no apoio aos quadros de saúde dos trabalhadores.”

Expostos ao amianto e à Covid-19 

Nesta etapa do projeto, a Rede recebeu o apoio da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), que teve como representante a fundadora e pioneira na defesa dos trabalhadores expostos ao amianto, Fernanda Giannasi. Apesar da dificuldade, a pesquisadora reforçou a importância de os trabalhadores e associados responderem ao inquérito, além de ressaltar as ações feitas pela associação para maior adesão. “Nossos membros têm muita dificuldade em responder às perguntas ou questionários feitos de maneira indireta, por telefone ou mesmo pela internet, e muitos se recusam por medo de estarem sofrendo algum tipo de golpe cibernético. É fundamental que os pesquisadores busquem meios de convencimento para obter essa adesão. A diretoria da Abrea busca convencer sobre a importância desses inquéritos, mas ainda, infelizmente, há muita resistência e baixa adesão”, disse ela.

A engenheira  e fundadora da associação deu um panorama da atual situação dos trabalhadores expostos ao amianto no Brasil. Segundo ela, como as doenças causadas pelo amianto têm longa latência –  vinte e cinco anos para aquelas ditas não malignas, como a asbestose, e mais de trinta/trinta e cinco anos para as malignas (câncer de pulmão, de laringe, ovário, testículo e o mesotelioma de pleura, peritônio e pericárdio) –, a grande maioria dos integrantes da associação está acima de 65 anos. “Esses trabalhadores são duplamente considerados para grupo de risco. Tivemos muitas mortes antes que as vacinas estivesses disponíveis para nossas associações estaduais, regionais e locais.”

E mesmo com todo o advento da pandemia, a Abrea continuou seu trabalho para ajudar esses trabalhadores. “Nosso trabalho tem sido exaustivo, embora ocorrendo basicamente de forma virtual, a fim de cumprir os protocolos sanitários, preconizados pela OMS, Opas e nossas instituições sérias ligadas à Saúde Pública”, explicou Fernanda Giannasi. Além disso, a pesquisadora informou que todas as atividades presenciais foram suspensas e houve intensas campanhas para a adoção dos protocolos exigidos pelos órgãos de saúde, como a higienização de mãos, uso de máscaras, dentre outras, incluindo a necessidade de esses trabalhadores se vacinarem. “Reforçamos a campanha assim que as vacinas se tornaram disponíveis, estimulando que fotografassem o ato de sua aplicação com postagens em nossas redes sociais, para estimular aqueles que tinham mais dificuldades de entender a importância da vacina e mesmo os que resistiam em tomá-las, baseados em mensagens erráticas de nosso governo federal com suas mensagens antivacina e do uso de máscaras, bem como promovendo aglomerações para obter a absurda imunidade de ‘rebanho’, termo que abominamos e retiramos de nosso vocabulário.”

Além da associação, o Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul também está apoiando a rede nessa etapa do projeto por meio da procuradora do Ministério Público da 4° Região, Aline Zerwes. A procuradora ressaltou ser de grande importância essa nova fase do projeto. “Essa estratégia é especialmente importante porque muitos trabalhadores ficam invisibilizados neste momento de grave crise sanitária e grandes demandas das políticas sociais e de saúde. Também, importante destacar, que os expostos ao amianto estão em maior risco de gravidade do adoecimento por Covid-19, devido o comprometimento preexistente no sistema pleuro-pulmonar, também por apresentarem outras comorbidades associadas. Entretanto, em sua maioria, são pessoas que têm histórica dificuldade social de acessar sistemas de proteção.”

O MPT- 4 Região já realiza algumas ações no estado  e no país voltadas para os trabalhadores expostos ao amianto. E a ideia é somar essas ações para maior proteção desses trabalhadores. “Unimos esforços institucionais para essa iniciativa do MPT com a ENSP/Fiocruz e apoio da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, dos Cerest’s Estaduais BA, RS, RJ, SC, SC, PR e Abrea’s desses estados, para que, juntos, possamos buscar informações da situação de saúde desses expostos com grande vulnerabilidade em saúde e social, com intuito de planejamento de ações direcionadas a esses trabalhadores e suas necessidades sociais e em saúde.”

Saiba mais sobre a Rede de Informações e Comunicação Sobre a Exposição De Trabalhadores e Trabalhadoras ao Sars-CoV-2 na nossa seção especial .

Todos os trabalhadores expostos ao Sars-CoV-2 podem responder ao questionário. Acesse clicando aqui .

Fonte: CLIQUE AQUI